sexta-feira, 14 de setembro de 2012



Cansei das ilusões, mesmo com o seu sedutor arco-íris de possibilidades. Escolho a realidade, ainda que as suas certezas só pintem a vida em preto e branco. Redescobrir as cores no cenário gris da desilusão será sempre o nosso maior desafio. 
Aíla Sampaio 


Nada é mais desgastante do que a espera pelo que não vem, sem a consciência dessa fatalidade. É muito íngreme e longo o percurso até a perda total da esperança.

Aíla Sampaio



Quando se nasce com a alma nua,credencia-se inevitavelmente um destino de dores. Não há unguentos nem orações capazes de garantir proteção, mas pode-se tomar cuidados para minimizar a intensidade dos golpes: não permitir a roupa pesada do desamor, evitar o vento encanado das ausências prolongadas (veladas pelo silêncio), desisistir do que inquieta o sono. Sem essas precauções, vive-se como quem, em carne viva, se expõe permanentemente ao sol de meio-dia.

Aíla Sampaio  

O silêncio é uma palavra muda, mas prenhe de significados.

Aíla Sampaio  
 

Às vezes é preciso ir embora,  abrir mão de alguns sonhos, colocar os pés no chão e seguir em busca do horizonte possível. Às vezes é necessário deixar sangrar a ferida, não fazer curativos, não mascarar a dor com analgésicos. É, por vezes, inevitável morrer um pouco para redescobrir a vida. É tão óbvio e não vemos: só quando nos perdemos é que podemos nos encontrar.

Aíla Sampaio  
 

"Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor" (Fernando Pessoa). Não existe parto sem sofrimento nem revolução sem sangue. Todo ideal pressupõe luta; toda mudança acarreta perdas, todo movimento desestabiliza. É somente no desequilíbrio da acomodação que as conquistas são feitas.

Aíla Sampaio 
  

Fazer escolhas implica possibilidade de erros e certeza de consequências. Não fazê-las  significa não aventurar-se, não correr riscos, não experimentar o sabor acre da vida, mas não provar também do seu doce.

Aíla Sampaio  
 

Há olhares que vão bem além dos olhos, que têm desdobramentos e bifurcações. O teu é assim... e quando cheio de segundas intenções, me faz pensar numa fila indiana com todos os números ordinais do desejo.

Aíla Sampaio


De vez em quando é preciso sair de cena e deixar a vida correr à nossa revelia, para ver se algo de novo acontece...

Aíla Sampaio  

Ainda não foi ontem, talvez nem seja amanhã, mas já me faz sofrer a simples possibilidade de um dia acordares sem vontade de mim...

Aíla Sampaio  


Quando se vive a espera,  todos os caminhos são suspensos; fica-se em satandy by, com os olhos voltados apenas para o que a ansiedade projeta em nossos pensamentos. 
Aíla Sampaio 

Não me falta sutileza para dizer certas coisas, mas nunca sobra arrogância. Falta-me tato para lidar com certos problemas, mas nunca boas intenções para resolvê-los. Persigo um estado de satisfação com o ser e fazer, numa exigência desnecessária, pois  não somos nem nunca seremos mais do que o que podemos ser, nem daremos além daquilo que temos para dar. Extrapolar a própria capacidade de doação é criar a possibilidade de frustrar-se e frustrar os outros.

Aíla Sampaio  


No meu coração não cabe entulho; minha alma não arrastam correntes; minhas mãos não suportam pedras; não pelo tamanho, mas pela textura imcompatível do meu ser com o que é áspero e íngreme; com o que ocupa espaço sem preencher. Descobri muito cedo que espíritos leves só carregam flores... suas mãos de afeto não suportam peso na paisagem de dentro.

Aíla Sampaio 
  

Já acreditei em coelhinho da Páscoa, em papai noel e em duendes. Já tive medo de guará e lobisomen, vivi pesadelos horríveis com monstros que saíam de dentro do travesseiro, quando me excedia nos filmes da TV. Meu olhar crédulo sobre as coisas amadureceu, entendeu que tudo só existia no imaginário... desmistifiquei sem traumas os personagens ruins e os bons da minha infância. Hoje, menina crescida e já bem menos tola, nenhum deles me faz mais medo; o que me apavora são os espectros que povoam a realidade: as pessoas fantasiadas de gente.

Aíla Sampaio 
  

Quando eu era menina, tudo era pra amanhã, tudo podia esperar, sem pressa, pois os acordes do tempo tinham a placidez de um lago. Hoje tudo é pra ontem, tudo é urgente, pois o tempo é intermitente e escorre veloz feito água de rio...
Aíla Sampaio 

Não devemos nos doar sem saber se os nossos atos serão compreendidos com a gratuidade que têm. Até o que fazemos de bom pelas pessoas pode ser visto de modo deturpado.  A interpretação, fatalmente, dependerá do que está dentro do outro, do jeito que ele procederia se estivesse no nosso lugar.
Aíla Sampaio 

Se eu tivesse que escolher aonde morar, não teria dúvida: iria viver
para sempre dentro do teu abraço!
Aíla Sampaio 


Precisamos ter amigos de verdade, pois o que vivemos de bom deve ser exposto, dividido, partilhado, para que confirmemos o ocorrido e tenhamos certeza de que não apenas sonhamos. Viver coisas boas e não contá-las é como se elas não tivessem realmente acontecido.

Aíla Sampaio

sexta-feira, 7 de setembro de 2012


É preciso trocar o disco, ouvir e dizer coisas novas, empurrar o bonde pra frente, fazer a fila andar. É preciso lembrar de não esquecer que água estagnada vira celeiro de doenças; corpo que não se movimenta enguiça; mente preguiçosa faz o cérebro atrofiar. A vida é um bem renovável, por isso, subamos, desçamos, andemos para os lados, mas não fiquemos estáticos no mesmo lugar, esperando que o tempo nos leve para onde ele quiser. Sejamos protagonistas, jamais codjuvantes no enredo da nossa história.
AílaSampaio
Quando te ausentas por muito tempo, finjo que estás morto; mas, se te encontro, de repente, renasces e calas todos os meus ais. O arco-íris que desenhas no céu com o teu sorriso muda o meu rumo, aponta outra estrada; dá cor aos meus dias mais banais, sem que seja preciso uma palavra.

AílaSampaio

Pra mim, um dos piores defeitos do ser humano é a insistência em ruminar o passado. Só posso interpretar isso como falta de presente. A fila tem que andar até para os pensamentos...

AílaSampaio
Estamos conjugando verbos em tempos e modos diferentes, rastejando uma despedida que até pode nem ser o que quermos. Olha bem pra mim e decide que música pretendes dançar. Pode ser que eu tope. Pode ser que não, mas pelo menos saberei o ritmo antes de decidir apertar o 'play' ou o 'eject'. 
AílaSampaio
Vesti um sorriso para receber-te, desarmada como um guerrilheiro rendido, mas vieste como para um combate. Fugi à luta por princípio: no amor, se houver disputa de poder, a batalha já começa perdida.
AílaSampaio

Desinteresso-me fácil pelas coisas muito difíceis. Tamanhos e larguras de que as minhas mãos não dão conta, lonjuras que os meus olhos não alcançam, são apenas motes para a minha poesia. Gosto mesmo é do palpável, do possível, do que se pode prender num abraço.

AílaSampaio


Não disputo poder nem amor. Conquisto-os. 
AílaSampaio
O tempo alonga o nosso pavio, diminui as inseguranças das nossas mãos, coloca menos grau nos espelhos. O tempo diminui o nosso fogo, põe rugas em nossa testa e coloca lentes em nossos olhos. O tempo faz e desfaz sem pedir licença... é generoso e tenebroso. Depende do lado que a gente olhe.
AílaSampaio 
Tu plantaste o deserto em minha alma e agora queres colher flores?
Soterraste a minha esperança de primavera e agora ressurges no outono, para que eu veja que mudaste? Posso até ver, mas jamais volto a enxergar quem um dia jogou areia nos meus olhos.
AílaSampaio 

Talvez um dia nem seja preciso falar: ele já adivinhe. Pode ser também que, de outro modo, ele jamais seja capaz de ler o meu silêncio. Nunca se sabe de que prerrogativas gozam os sentimentos, para que as palavras sejam desnecessárias.
AílaSampaio 



A solidão tem os seus reveses. Ora nos permite ficar deleitados apenas em nossa própria companhia; ora nos preenche com vazios insuportáveis. Ora se mistura à carência, à sensação de abandono, e veste-se de bruxa para nos assombrar; ora habita-nos sem ocupar espaços, permitindo-nos o encontro com a nossa própria essência. Na verdade, solidão só incomoda quando não sabemos o que fazer dela.
AílaSampaio
O que de ti ficou foi cicatriz. Vou cobri-la com muitas sedas para esquecer que doeu. Lua minguante num céu sem estrelas, te vi sol e bebi tua luz. À beira do eclipse, cai nas artimanhas de tuas sutilezas, acreditei loucamente em tudo que me disse o coração – esse inconteste aprendiz . Não eras o sol que me acordava nas manhãs. Fui eu que assim te fiz: impressão colorida em papel couchê; delicadeza irreal, um amor feito de clichês. Preciso das armas de Jorge para vencer a batalha, para esquecer o que não foi vivido; preciso do fogo dos sete raios para quebrar a navalha que me reparte e me dilacera na saudade do que não aconteceu.

AílaSampaio

O que sou é o que sinto: calmaria, temporal, manso lago de cristal ou mar revolto. Não minto, apenas finjo calar, porque, solto, meu pensamento é um labirinto, é só vendaval. Apresso-me para o dia, fecho a armadura, e paro no meio do caminho: pressinto a pedra , a palavra, a rosa , os espinho, e calo. Meu silêncio, amigo, não se engane, é redemoinho.

AílaSampaio


Sou a que se despede sempre que chega; os olhos marejando, a pele em febre qual um vulcão soterrado que nunca explode. Sou a que vive à flor da pele, que nunca deixa o barco à deriva nem sente sede sob o sol causticante. A que não sente medo ante o mar em que navega sem remos; a que vive a derrubar paredes, a atravessar pontes. Sou a que nunca chega a tempo, sempre depois... ou antes.

AílaSampaio


sábado, 1 de setembro de 2012

O que ficou dele em mim não foram os abraços demorados nem as lembranças guardadas entre livros e fotografias; não foi o laço feito de afinidades e cansaços nem as belas melodias cantadas para mim. A marca das mãos dele desapareceram do meu corpo e o gosto do beijo em minha boca se desfez. Não ficou a intimidade pouco a pouco construída sequer um sentimento que justificasse a minha insensatez.  O que ficou dele em mim foram as palavras de descaso ditas à minha revelia; a delicadeza esquecida, nos momentos de tensão,  e a ternura desperdiçada em inesperadas ironias. O que ficou mesmo foi a indiferença dele à minha mão estendida - a ferida mais aberta de todas as feridas.
AílaSampaio


 
Ex-amores devem ser como verbos no pretérito perfeito: um passado consumado, afinal, recaídas são como filmes já vistos: o enredo é previsível e o final já é bem conhecido.
AílaSampaio



Às vezes é melhor não ver, não sentir. Desligar os comandos da intuição. A inconsciência das coisas nos protege de muitas dores. Não que devamos nos enganar, mas que selecionemos os desassossegos; que nos finjamos de mortos quando algum punhal nos for apontado. Com o tempo é que se percebe a inutilidade de tanta perspicácia... Tudo acaba por se tornar desimportante; tudo se esfuma, menos as marcas que ficam dos golpes que nos permitimos levar. A verdade é que alguns sofrimentos vêm inevitalvelmente; outros, nós mesmos os procuramos.
AílaSampaio

Eu bem que te avisei: roseiras sem rega perdem o viço; descuidos e descasos secam a seiva. Fica a terra fértil pronta pra nova semeadura. A anterior não vinga mais.
AílaSampaio

 
É o destino que traça a nossa direção. Se existisse livre-arbítrio, poderíamos escolher os caminhos para amar quem de fato merece os nossos sentimentos...
AílaSampaio



"Tudo passa"... eu me irritava quando me repetiam essa frase tão clichê. Eu sabia que tudo passava, inclusive que eu passaria na vida das pessoas que amava, mas, queria que alguma vez fosse diferente. Pois nunca foi. E, não tão de repente, mas sempre, o que era tão essencial ia perdendo espaço, ganhando desimportância, mudando a sua configuração dentro de mim. Não tão rápido nem tão fácil; não sem dor. Após o desespero, era olhar para trás e ver que restava apenas um vulto, uma sombra sem volume, e a certeza de que não poderia nem deveria ter sido de outro modo. Há coisas que só compreendemos bem depois, quando já estamos preparados, corpo e alma, para a consciência de que o que aconteceu foi o melhor que poderia ter acontecido.
AílaSampaio


 
Somos o que despertamos nos outros...
AílaSampaio

Depois do amor, contam mais as delicadezas do dia seguinte do que as da hora H.
AílaSampaio

Olhando pra certas coisas, vivo o drama 'hamletiano': ver ou não ver... eis a questão!
AílaSampaio

 
Tu que entraste no meu sonho sem pedir licença, tudo transformando, de repente, em pesadelo, faças o favor de sair sem me avisar!
AílaSampaio

 
Tenho medo das pessoas que não riem, que não andam descalças, que nunca vestem vermelho. Tenho medo de quem não erra nunca, de quem não sabe pedir desculpas, de quem não aprendeu a escutar. Tenho medo de quem só anda em linha reta, evitando as esquinas e as escadarias. Tenho medo, sinceramente, tenho medo das pessoas que vivem soterradas em suas próprias convicções e nunca abrem a porta para que a vida entre e realmente aconteça imperfeita e imprevisível como é. Tenho medo dessas pessoas como de bombas-relógio.
AílaSampaio

 
Vontades muitas me sacodem. Vontades calóricas quando ansiosa. Vontades de mergulho quando calor. Vontades dele quando saudade. Às vezes as realizo, às vezes sobrevivo a elas; noutras, elas morrem à míngua. Acho que a vida é isso: quereres de muitas cores, texturas e origens; alguns aplacados; outros cheios de possibilidades; a maioria, entretanto, contrariados, mas sempre desejosos de realidade. Cessadas as vontades, mortos os quereres, cessa o combustível que nos mantém acesos; apaga-se a chama. Daí as histórias dos mortos-vivos.
AílaSampaio


 
 
Depois das rasuras haverá sempre a presença de parênteses.Depois de plantada a desconfiança, florescerá sempre a dúvida. A vida não aceita "liquid paper".
AílaSampaio
 

A nossa verdade está nos bastidores, no quarto escuro, não na sala, com a melhor louça à mesa para receber as visitas. Facebook é palco... aqui somos todos personagens representando a nós mesmos; somos a projeção do nosso próprio pensamento do que somos (ou do que gostaríamos de ser). Como em todo espetáculo, os talentos se revelam, as personalidades se mostram, os gostos, os desgostos, num bom exercício de conhecimento das nossas possibilidades e das dos outros. É uma ótima ferramenta para reencontrar pessoas, trocar ideias, divulgar trabalhos e projetos. Mas a face legítima de cada um, não nos enganemos, só olhando dentro dos olhos... a vida que realmente tem validade está no cenário offline. Aqui, até a verdade é representada... não é de propósito; é a regra do jogo que assimilamos sem perceber.
AílaSampaio


 
O esquecimento é a forma mais digna de fazer alguém não existir mais.
AílaSampaio
 


Por educação, conveniência ou necessidade, podemos nos submeter a situações contrárias à nossa vontade; jamais, porém, devemos dar a quem quer que seja o direito de decidir o nosso estado de espírito ou determinar o nosso humor.
AílaSampaio



Sou contra qualquer tipo de ditadura, inclusive a da alegria. Todos temos direito a ficar reclusos quando o coração não pede festa. Alegria artificial é bem mais nociva do que a melancolia saudável de quem respeita os próprios sentimentos e não vive como se encenasse permanentemente uma novela.
AílaSampaio

Eu bem que deveria ter te deixado escorrer pelo ralo naquele dia de faxina moral e apologia ao amor próprio, mas recuei com essa minha generosidade patética... eu no que deu: lágrimas reincidentes, sofrimentos repetidos e a certeza de que não devemos dar segunda chance a quem não merecia ter tido nem a primeira.
AílaSampaio